ARTE BARROCA
ESCULTURA, PINTURA, ESCULTURA, LITERATURA E TEATRO.
A Contrarreforma deu uma
atenção redobrada à imaginária sacra, seguindo antiga tradição que afirmava que
as imagens de santos, pintadas ou esculpidas, eram intermediários para a
comunicação dos homens com as esferas espirituais. São João da Cruz afirmava
que havia uma relação recíproca entre Deus e os fiéis que era mediada pelas
imagens, e vários outros religiosos católicos, como São Carlos Borromeu e
Roberto Bellarmino reiteraram sua importância no culto, mas o valor delas havia
sido negado pelos protestantes, o que desencadeou grandes movimentos
iconoclastas em várias regiões protestantes que provocaram a destruição de
incontáveis obras de arte. A imaginária sacra, então, voltou a ser vista como
elemento central no culto católico, fazia parte de um conjunto de instrumentos
usados pela Igreja para invocar emoções específicas nos fiéis e levá-los à
meditação espiritual. Num tratado teórico sobre o assunto, Gabriele Paleotti as
defendeu a partir da ideia de que elas ofereciam para o fiel inculto uma
espécie de Bíblia visual, a Biblia pauperum, enfatizando sua função pedagógica
e seu paralelo com o sermão verbal. Mas considerou ainda a função da excitatio,
a possibilidade de mexer com a imaginação e as emoções do povo, transferindo
para a arte sacra a tipologia da retórica. Nem a liberdade artística deveria
ser tolhida nem os teóricos desenvolveriam prescrições estilísticas
propriamente ditas, apenas orientações normativas e morais. As imagens deveriam
cumprir com o quesito de serem instrutivas e moralmente exemplares para os
fiéis, buscando persuadí-los. Através da transmissão da fé "correta"
aos fiéis, o artista adquiria um papel teologizante, e o próprio espectador em
movimento pela igreja tornava-se uma peça do cenário deste "teatro da
fé". Como disse Jens Baumgarten,
O teorema jesuítico
pós-tridentino e sua nova concepção da imagem em si, os modelos romanos, a
representação do poder e a liturgia encontram-se e fundem-se numa síntese. Sem
a imagem perfeita não há fé correta. A nova ênfase dada às imagens une-se a uma
nova visão da sociedade. As mudanças ocorridas até 1600 levariam à construção
de uma nova perspectiva eclesiástica e iconográfica que acabou desembocando no
ilusionismo perspectivista, unido elementos de emocionalidade irracional com a
transformação plástica de conceitos teológicos intransigentes.
Dentro desse espírito,
na escultura é de assinalar o desenvolvimento de um gênero de composição grupal
chamado de "sacro monte", concebido pela Igreja e rapidamente
difundido por outros países. Trata-se de um conjunto que reproduz a Paixão de
Cristo ou outras cenas piedosas, com figuras policromas em atitudes realistas e
dramáticas em um arranjo teatralizado, e destinadas a comover o público. Deste instrumental pedagógico católico fazia
parte ainda a construção de cenários nos quais eram inseridas as estátuas a fim
de criar ainda maior ilusão de realidade, numa concepção verdadeiramente
teatral. Às vezes tais grupos eram confeccionados de forma a poderem ser
movidos e transportados sobre carros em procissões, criando-se uma nova
categoria escultórica, a das estátuas de rocaem madeira. Para aumentar o efeito
mimético muitas possuíam membros articulados, para que pudessem ser manipuladas
comomarionetes, assumindo uma gestualidade eficiente e evocativa, variável de
acordo com o progresso da ação cênica. Recebiam roupagens que imitavam as de
pessoas vivas, e pintura que assemelhava à carne humana. E para maior ilusão
seus olhos podiam ser de vidro ou cristal, as cabeleiras naturais, as lágrimas
de resina brilhante, os dentes e unhas de marfim ou osso, e a preciosidade do
sangue das chagas dos mártires e do Cristo flagelado podia ser enfatizada com a
aplicação de rubis. Assim, nada melhor para coroar a participação do público
devoto na re-criação da realidade mística do que permitir que a ação se
desenrolasse em espaço aberto, na procissão, onde a movimentação física do fiel
ao longo do trajeto poderia propiciar a estimulação da pessoa como um todo, diferentemente
da contemplação estática diante de uma imagem em um altar. Nos casos em que o
"sacro monte" deveria ser levado às ruas, usualmente era simplificado
a uma sugestão de rochas ou numa gruta. Conforme a ocasião, a gruta ou rocha
poderiam representar o Monte Sinai, o Monte Tabor, o Monte das Oliveiras, a
Gruta da Natividade, a rocha da Tentação de Cristo ou outros locais impregnados
de significado. Algumas vezes o cenário rochoso era substituído por outro
arquitetônico, especialmente após o trabalho de Andrea Pozzo, codificador da
perspectiva ilusionística arquitetônica que foi largamente empregada na
decoração de templos católicos. Com os mesmos fins práticos, para aliviar o
peso do conjunto, as imagens eram entalhadas apenas parcialmente, com acabamento
só nas partes que deveriam ser vistas pelo público, como as mãos, cabeça e pés,
e o restante do corpo consistia em uma simples estrutura de ripas ou armação
oca coberta pela roupa de tecido.
Andrea Pozzo,
codificando a técnica da perspectiva arquitetônica ilusionística em seu tratado
Perspectiva Pictorum et Architectorum, foi o responsável pela divulgação em
larga escala de uma das mais típicas modalidades de pintura do Barroco, a
criação de grandes tetos pintados onde as paredes do templo parecem continuar
para cima e se abrir para o céu, oferecendo a visão de uma epifania onde
santos, anjos e Cristo parecem descer entre nuvens e resplendores de glória. A
técnica não era inteiramente nova e já havia sido praticada por outros como
Correggio e Michelangelo no Maneirismo, mas o tratado de Pozzo se tornou
canônico, sendo traduzido para várias línguas ocidentais, e até para o chinês.
Enquanto que seus predecessores continham o céu num espaço mais limitado, Pozzo
e seus seguidores buscaram deliberadamente uma impressão de infinitude.
Também típica da pintura barroca foi a corrente dedicada
à exploração especialmente dramática dos contrastes de luz e sombra, a chamada
escola Tenebrista. Seu nome deriva de tenebra (treva, em latim), e é uma
radicalização do princípio do chiaroscuro. Teve precedentes na Renascença e se
desenvolveu com maior força a partir da obra do italiano Michelangelo Merisi,
dito Caravaggio, sendo praticada também por outros artistas da Espanha, Países
Baixos e França. Como corrente estilística teve curta duração, mas em termos de
técnica representou uma importante conquista, que foi incorporada à história da
pintura ocidental. Por vezes o Tenebrismo é entendido como sinônimo de
Caravaggismo, mas não são coisas idênticas. Os intensos contrastes de luz e
sombra emprestam um aspecto monumental aos personagens, e embora exagerada, é
uma iluminação que aumenta a sensação de realismo. Torna mais evidentes as
expressões faciais, a musculatura adquire valores escultóricos, e se enfatizam
o primeiro plano e o movimento. Ao mesmo tempo, a presença de grandes áreas
enegrecidas dá mais importância à pesquisa cromática e ao espaço iluminado como
elementos de composição com valor próprio. Na França Georges de La Tour foi um
dos adeptos da técnica; na Itália, Battistello Caracciolo, Giovanni Baglione e
Mattia Preti, e na Holanda, Rembrandt van Rijn. Mas talvez os mais notáveis
representantes sejam os espanhóis José de Ribera, Francisco Ribalta e Francisco
de Zurbarán.
Também se tornaram
comuns no Barroco a pintura de naturezas-mortas e interiores domésticos,
refletindo a crescente influência dos gostos burgueses. Nos Países Baixos
protestantes foram um dos traços distintivos do Barroco local, conhecido ali
como a Era Dourada da pintura. Na época a região era uma das mais prósperas da
Europa, e estando livre do controle católico pôde manter uma tradição de
liberdade de pensamento, dentro de uma organização política bastante
democrática. Tinha a burguesia comerciante como sua classe social mais
influente, a qual patrocinava uma pintura essencialmente secular, de caráter
único no panorama barroco. Entre seus principais expoentes se contam Frans
Hals,Vermeer, Frans Snyders, Pieter de Hooch, Meindert Hobema, Jacob Jordaens,
Anthony van Dyck, Jacob van Ruisdael e Rembrandt
Arquitetura barroca é
caracterizada pela complexidade na construção do espaço e pela busca de efeitos
impactantes e teatrais, uma preferência por plantas axiais ou centralizadas,
pelo uso de contrastes entre cheios e vazios, entre formas convexas e côncavas,
pela exploração de efeitos dramáticos de luz e sombra, e pela integração entre
a arquitetura e a pintura, a escultura e as artes decorativas em geral. O
exemplo precursor da arquitetura barroca geralmente é apontado na Igreja de
Jesus em Roma, cujo projeto foi de Giacomo Vignola e a fachada e a cúpula de
Giacomo della Porta. Vignola partiu de modelos clássicos estabelecidos pelo
Renascimento, que por sua vez se inspiraram na tradição arquitetônica da Grécia
e da Roma antigas. As diferenças introduzidas por ele foram a supressão do
transepto, a ênfase na axialidade e o encurtamento da nave, e procurou obter
uma acústica interna eficaz. A fachada se tornou um modelo para as gerações
futuras de igrejas jesuítas, com pilastras duplas sustentando umfrontão no
primeiro nível, e um outro frontão, maior, coroando toda a composição. O
interior era originalmente despojado, e seu aspecto atual é resultado de
decorações no final do século XVII, destacando-se um grande painel pintado no
teto com o recurso da arquitetura ilusionística.
Especialmente depois das
guerras e tumultos sociais e religiosos da primeira parte do século XVII, a
literatura experimentou um grande florescimento em vários países, dando origem
à literatura moderna. Na Itália apareceu a corrente Marinista liderada por
Giambattista Marino, de grande influência; na Península Ibérica e colônias
americanas se desenvolveu o Cultismo e o Conceptismo de Luis de Góngora,
Francisco de Quevedo, do padre Antônio Vieira e de Gregório de Matos. Na França
foi a era de Molière, Racine, Boileau e La Fontaine; nos Países Baixos, foi a
Idade de Ouro da poesia, com expoentes em Henric Spieghel, Joost van den
Vondel, Daniël Heinsius e Gerbrand Bredero; na Inglaterra, propiciou-se o
florescimento de uma poesia metafísica tipificada por John Dryden, John Milton,
John Donne e Samuel Johnson.
Seu motivo onipresente
foi o conflito entre a tradição clássica herdada do Renascimento e as novas
descobertas da ciência, as mudanças na religião, novas aspirações e um desejo
de inovar. A herança clássica trazia consigo determinadas formas estéticas e
padrões morais, quase toda a literatura do século anterior fora moralizante,
mas ao mesmo tempo se fazia frente à necessidade cristã de rejeitar o tão
prezado modelo clássico por sua origem pagã, considerada uma influência
corruptora e enganosa, e isso explica parte da rejeição do classicismo em boa
parte do Barroco. O conflito se estendeu para a área da educação, até então
também pesadamente devedora dos clássicos e, através da influência jesuítica,
vista como o principal e primeiro instrumento de reforma social.
Em termos estilísticos,
a literatura barroca em linhas gerais dedicou um profundo cuidado à forma e ao
virtuosismo linguístico no intuito de maravilhar e convencer o leitor, o que
implicava o uso constante de figuras de linguagem e outros artifícios
retóricos, como a metáfora, a elipse, a antítese, o paradoxo e a hipérbole, com
grande atenção ao detalhe e à ornamentação como partes essenciais do discurso e
como formas de demonstrar erudição e bom gosto. Também deve ser assinalado seu
caráter em muito experimental e sua ousadia no manejo da língua, não tendo
precedentes nestes aspectos na literatura do ocidente.
Ao mesmo tempo se
popularizaram as literaturas vernaculares e aquelas centradas no cotidiano,
cultivando temas naturalistas e de crítica social, como contrapartida ao
idealismo cavaleiresco e nobilitante do Renascimento. São criados gêneros
naturalistas como a novela picaresca, com um grande exemplo no Simplicius
Simplicissimus de Hans Jakob Christoffel von Grimmelshausen, ou a novela
polifônica moderna, tipificada no Don Quixote, de Cervantes. A esta tendência
anticlássica corresponde também a fórmula da comédia nova criada por Lope de
Vega, e divulgada através de seu Arte Nova de fazer comédias neste tempo,
rompendo com as unidades aristotélicas de ação, tempo, e espaço. A conquista da
América deu lugar ao gênero das crônicas, entre as quais podemos encontrar
algumas obras mestras, como as de Frei Bartolomé de las Casas e Inca Garcilaso
de la Vega.
Na poesia sacra se
notabilizaram São João da Cruz, Soror Juana de la Cruz e Santa Teresa de Ávila.
Ao longo do século XVIII os gêneros satíricos e sentimentais como os cultivados
por Alexander Pope, Voltaire e Jonathan Swift, por exemplo, se tornaram
favoritos, à medida que a influência da religião declinava, os ideais clássicos
se fortaleciam novamente, se consolidava a sensibilidade do Rococó e o
pensamento iluminista se tornava predominante.
Um trecho do Sermão do
Mandato (1655) do padre Antônio Vieira pode transmitir uma ideia do discurso
literário tipicamente barroco, com reiterações, comparações, antíteses e outros
recursos retóricos e eruditos de linguagem:
"Com duas
comparações ou metáforas, declara S. Paulo este fazer-se e desfazer-se: com
metáfora da roupa que se veste e se despe, e com metáfora do vaso que se enche
e se vaza. Com metáfora da roupa que se veste e se despe: 'Habitu inventus ut
homo'; com metáfora do vaso que se enche e vaza: 'Exinanivit semetipsum' e
ambas as metáforas parece que as tomou S. Paulo do mesmo ato do lavatório em
que estamos. A da roupa enquanto se despe: 'Ponit vestimenta sua' - e a do vaso
enquanto se vaza: 'Mittit aquam in pelvim'. E por que usou S. Paulo destas duas
metáforas e destas duas comparações? Porque só com elas podia mostrar a
diferença deste ato e deste dia ao ato e ao dia da Encarnação. No dia e ato da
Encarnação, fazendo-se Deus homem, Deus vestiu-se da humanidade, porque a uniu
a si, e se cobriu com ela; e a humanidade, que era um vaso de barro pequeno e
estreito, ficou cheia de Deus, porque Deus a encheu com toda a imensidade de
seu ser: 'Quia ín ipso inhabitat omnis plenitudo divinitatis corporaliter'. E,
sendo isto o que se fez no dia da Encarnação, tudo isto - quanto à vista dos
olhos humanos - se desfez no dia e no ato de hoje. Porque, lançando-se Cristo
aos pés dos homens, e tais homens, e fazendo-se servo seu, e servo em
ministério tão vil e tão abatido, parece que Deus se despira outra vez da
humanidade de que estava vestido, desunindo-se dela, e que a mesma humanidade,
que estava cheia de Deus, perdida a união com a divindade, ficara totalmente
vazia: 'Exinanivit semetipsum, formam servi accipiens'. E foi isto assim como
parece? Não. Mas, posto que a humanidade de Cristo por este ato não perdeu a
união com a divindade, nem deixou de estar tão cheia de Deus como dantes
estava, abaixar-se, porém, e pôr-se em estado tão abatido, que o parecesse ou
pudesse parecer aos homens, foi uma diferença tão notável e tão estupenda, que só
o mesmo S. Paulo a pode ponderar e encarecer."
Literatura para o teatro o envenenamento de Britannicus, ilustração de
François Chauveau para a edição de 1675 da tragédia Britannicus, de Jean
Racine. O drama barroco tipicamente usa motivos clássicos mas tenta trazê-los
para o mundo moderno, muitas vezes centrando a ação na figura do monarca. Ao
contrário do drama clássico, onde o destino é uma das principais forças
propulsoras da ação, um destino que é cego e contra o qual não há nada capaz de
se opor, no drama barroco o interesse passa para as dificuldades inerentes ao
exercício do poder, da vontade e da razão diante da realidade política
corrupta, cruel e cínica e do descontrole das paixões, gerando uma perene e
dolorosa tensão entre o desejo por um mundo harmonioso, belo e santificado e a
impressão de que tudo se dirige para a catástrofe e a destruição, sem qualquer
esperança para o homem. Para a expressão desses conflitos um recurso técnico
comum é a alegoria, que transporta os fatos concretos para uma esfera mais
abstrata e mais abrangente, possibilitando múltiplas interpretações e fazendo
relacionamentos simultâneos entre vários níveis de realidade. O uso da alegoria
é típico do Barroco também porque ela não oferece uma resposta unívoca às
questões propostas, permanecendo o incerto, o ambíguo e o mutável como
elementos integrantes do tema, permite o exercício da crítica social sem
ligar-se diretamente a figuras públicas verdadeiras, e possibilita a exploração
da psicologia humana em todos os seus extremos contrastantes de virtude e
vício, e com todas as nuances intermédias. Por tais motivos, nas alegorias
dramáticas do Barroco abundam imagens de ruínas e da morte, mas abrindo a
perspectiva de um novo nascimento e de uma ação humana significativa.
O teatro barroco herdou
os avanços renascentistas na construção de cenários com perspectivas
ilusionísticas, o que estava ligado à revivescência da arquitetura clássica.
Arquitetos como Vincenzo Scamozzi, Sebastiano Serlio, Bernardo Buontalenti e
Baldassare Peruzzi haviam participado ativamente da concepção de cenários de
impacto realista, seja através de painéis pintados, o que era mais comum, seja
com construções realmente tridimensionais sobre os palcos, e pelo fim do século
XVI a cenografia se tornara uma parte importante na representação teatral. Ao
longo do século seguinte adquiriu relevo ainda maior, e como os cenários
teatrais não estavam sujeitos às limitações da arquitetura real, desenvolveu-se
uma linha de cenários altamente fantasiosos e bizarros, onde a imaginação
encontrou um terreno livre para se manifestar.[88] À medida que os cenários
móveis se tornavam mais complexos, da mesma forma evoluíam as casas teatrais,
até então construções temporárias ou de proporções modestas. O primeiro grande
teatro permanente fora erguido em Florença em meados do século XVI, e no século
seguinte vários outros apareceram. O primeiro proscênio permamente surgiu em
1618 no Teatro Farnese em Parma, sob a forma de uma derivação de um arco de
triunfo. Fixos, limitavam a visão do público à regra da perspectiva central,
que correspondia simbolicamente à visão do governante, um reflexo da ideologia
absolutista.
Também herança do
Renascimento foram a presença amiudada de motivos clássicos e a concepção da
ação numa unidade de tempo e espaço, que havia sido definida por Aristóteles na
Grécia Antiga. O resultado dessa regra foi a narrativa se desenvolver em um
único local num mesmo dia, forçando a ação dentro destes limites rígidos.
Essencialmente artificial, este tipo de teatro só encontrou apreciadores entre
a elite italiana. Contudo, à medida que o Barroco progredia, estes parâmetros
foram paulatinamente sendo abandonados, enquanto que na Inglaterra e Espanha,
por exemplo, a tradição dos mistérios e paixões medievais continuava viva. No
fim do século XVI nasceu um dos gêneros teatrais mais importantes, a ópera, que
foi concebida inicialmente como uma ressurreição do drama clássico grego, mas
logo se desenvolveu para tornar-se a súmula de todas as artes, envolvendo
representação, dança, música e um complexo aparato cênico para a produção de
efeitos especiais. Também reservada de início às elites, logo se tornou
apreciada pelo povo, fazendo imenso sucesso em quase toda a Europa.
A despeito de sua rápida
popularização e enorme prestígio entre a nobreza, chegando a deslocar o drama
falado como o gênero favorito de teatro, a ópera como um gênero representativo
enfrentava limitações sérias, além de ser regida por uma série de convenções. A
dificuldade de se conseguir uma eficiência dramática com a ópera barroca
derivava de vários fatores. Em primeiro lugar poucos cantores tinham verdadeiro
talento como atores, e no mais das vezes sua presença em palco só se
justificava pelas suas habilidades vocais. Em segundo, grande número de
libretos era de baixa qualidade, tanto em termos de ideia como de forma, tendo
seus textos reformados e adaptados infinitas vezes a partir de várias fontes,
resultando em verdadeiros mosaicos literários. Em terceiro, a própria estrutura
da ópera, fragmentada em uma longa sequência de trechos mais ou menos
autônomos, as árias, coro e recitativos, entre os quais os cantores saíam e
voltavam à cena várias vezes para receber aplausos, anulava qualquer senso de
unidade de ação que mesmo um libreto excelente pudesse oferecer. As árias eram
seções essencialmente estáticas, serviam acima de tudo para exibir o
virtuosismo do cantor e faziam uma meditação altamente retórica, estilizada e
formal sobre algum elemento da narrativa - cantavam um sentimento, planejavam
uma ação, refletiam sobre algum acontecimento anterior, e assim por diante, mas
não havia ação nenhuma. A trama era levada adiante somente nos recitativos,
partes cantadas de uma forma próxima da fala, com acompanhamento instrumental
reduzido a um mínimo. Os recitativos eram os trechos que o público considerava
menos interessantes, vendo-os como necessários apenas para dar alguma unidade
na frouxa e vaga coesão dramática da maioria dos libretos, e durante sua
performance era comum que os espectadores se engajassem em conversas com seus
vizinhos, bebessem e comessem, circulassem pelo teatro, enquanto esperavam a
próxima ária. Destarte, as óperas da época podem bem ser consideradas peças de
concerto com uma decoração visual luxuriante e apenas um esboço de ação cênica.
No caso da França, porém, a situação era diferente. A ópera nacional francesa,
chamada de tragédia lírica, como concebida pelo compositor Jean-Baptiste Lully
e o libretista Philippe Quinault, tinha libretos de alta qualidade, uma
perfeita adequação entre música e texto, e consistente desenvolvimento
dramático, superando em popularidade os dramas falados até de Racine, que então
estava no auge de sua carreira.
O século XVII trouxe à
música a revolução mais profunda desde aquela promovida pela Ars nova no século
XIV, e talvez tão importante quanto a que foi implementada pela música moderna
no século XX. É certo que tais mudanças não surgiram do nada e tiveram
precursores, e demoraram anos até serem absorvidas em larga escala, mas em
torno do ano 1600 se apresentaram obras que constituem verdadeiros marcos de
passagem. Esse novo espírito requereu a criação de um vocabulário musical
vastamente expandido e uma rápida evolução na técnica, especialmente a vocal.
As origens do Barroco musical estão no contraste entre dois estilos nitidamente
diferenciados, o chamado prima prattica, o estilo geral do século XVI, e o
seconda prattica, derivado de inovações na música de teatro italiana. Na
harmonia, outra área que sofreu mudança significativa, abandonaram-se os modos
gregos ainda prevalentes no século anterior para adotar-se o sistema tonal,
construído a partir de apenas duas escalas, a maior e a menor, que encontrou
sua expressão mais típica na técnica do baixo contínuo.
Além disso, se instalou
a primazia do texto e dos afetos sobre a forma e a sonoridade; o contraponto e
os estilos polifônicos, especialmente na música sacra, sobreviveram, mas
descartaram texturas intrincadas onde o texto se torna incompreensível, como
ocorria no Renascimento; iniciou-se a teorização da performance com tratados e
manuais para profissionais e amadores; foram introduzidas afinações temperadas
e formas concertantes; o baixo e a melodia assumem um lugar destacado na
construção das estruturas; a melodia buscou fontes populares e a dissonância
passou a ser empregada como recurso expressivo; as vozes superior e inferior
foram enfatizadas; às sonoridades interválicas sucederam as acórdicas, e
escolas nacionais desenvolveram características idiossincráticas. Entretanto,
assim como nas outras artes, o Barroco musical foi uma pletora de tendências
distintas; George Buelow considera que a diversidade foi tão grande que o
conceito perdeu relevância como definição de uma unidade estilística, mas
reconhece que o termo se fixou na musicologia.
No terreno da simbologia
e linguagem musical, foi de grande importância o desenvolvimento da doutrina
dos afetos, propondo que recursos técnicos específicos e padronizados usados na
composição podiam despertar emoções no ouvinte igualmente específicas e comuns
a todos. A doutrina teve sua primeira formulação no final do Renascimento
através do trabalho de músicos florentinos que estavam engajados na
ressurreição da música da Grécia Antiga e que foram os fundadores da ópera. De
acordo com sua interpretação de ideias de Platão, procuravam estabelecer
relações exatas entre palavra e música. Para eles uma ideia musical não era
somente uma representação de um afeto, mas sua verdadeira materialização.
Entre os gêneros vocais
teve um papel importante a forma policoral com estruturas antifonais, os
chamados cori spezzati, desenvolvida por Andrea Gabrieli e Giovanni Gabrieli em
Veneza, na passagem do século XVI para o século XVII, estabelecendo precedentes
para os gêneros concertantes vocais e instrumentais e inovando nas técnicas polifônicas.[104]
Mas possivelmente a mais influente e seminal forma vocal a se desenvolver no
Barroco foi a ópera, o mais ambicioso projeto de exploração dos efeitos
dramáticos em música, com o auxílio de representação cênica e requintadas
cenografias. Enquanto Monteverdi desenvolvia a parte final de sua carreira em
Veneza, Roma e Nápoles também patrocinavam uma rica atividade operística,
introduzindo outras novidades: um uso mais frequente do coro, introdução de
intermezzi dançados entre os atos, e a adoção de uma abertura em estilo de
canzona. A ópera logo ganhou ampla aceitação, e o gosto popular passou a
influir sobre os compositores, utilizando melodias populares e cenários
suntuosos e engenhosos, com maquinismos cênicos para efeitos especiais e
aberturas no estilo de fanfarras. O desejo da audiência por melodias facilmente
memorizáveis e cantáveis possibilitou a progressiva distinção entre árias e
recitativos.
ORGANIZE OS TRECHOS DO TEXTO SOBRE ARTE BARROCA DE ACORDO COM A ORDEM EM QUE SE ENCONTRAM.
ARTE BARROCA
ESCULTURA, PINTURA, ESCULTURA, LITERATURA E TEATRO.
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1
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A ópera logo ganhou ampla aceitação, e o
gosto popular passou a influir sobre os compositores, utilizando melodias
populares e cenários suntuosos e engenhosos, com maquinismos cênicos para
efeitos especiais e aberturas no estilo de fanfarras. O desejo da audiência
por melodias facilmente memorizáveis e cantáveis possibilitou a progressiva
distinção entre árias e recitativos.
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2
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Entre os
gêneros vocais teve um papel importante a forma policoral com estruturas
antifonais, os chamados cori spezzati, desenvolvida por Andrea Gabrieli e
Giovanni Gabrieli em Veneza, na passagem do século XVI para o século XVII,
estabelecendo precedentes para os gêneros concertantes vocais e instrumentais
e inovando nas técnicas polifônicas.
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3
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Conforme
a ocasião, a gruta ou rocha poderiam representar o Monte Sinai, o Monte
Tabor, o Monte das Oliveiras, a Gruta da Natividade, a rocha da Tentação de
Cristo ou outros locais impregnados de significado...
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4
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Assim,
nada melhor para coroar a participação do público devoto na re-criação da
realidade mística do que permitir que a ação se desenrolasse em espaço
aberto, na procissão, onde a movimentação física do fiel ao longo do trajeto
poderia propiciar a estimulação da pessoa como um todo, diferentemente da
contemplação estática diante de uma imagem em um altar.
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5
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Recebiam
roupagens que imitavam as de pessoas vivas, e pintura que assemelhava à carne
humana.
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6
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O século
XVII trouxe à música a revolução mais profunda desde aquela promovida pela
Ars nova no século XIV, e talvez tão importante quanto a que foi implementada
pela música moderna no século XX.
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7
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A trama
era levada adiante somente nos recitativos, partes cantadas de uma forma
próxima da fala, com acompanhamento instrumental reduzido a um mínimo.
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A
despeito de sua rápida popularização e enorme prestígio entre a nobreza,
chegando a deslocar o drama falado como o gênero favorito de teatro, a ópera
como um gênero representativo enfrentava limitações sérias, além de ser
regida por uma série de convenções.
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9
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Tinha a
burguesia comerciante como sua classe social mais influente, a qual
patrocinava uma pintura essencialmente secular, de caráter único no panorama
barroco.
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10
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Também
herança do Renascimento foram a presença amiudada de motivos clássicos e a
concepção da ação numa unidade de tempo e espaço, que havia sido definida por
Aristóteles na Grécia Antiga.
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O teatro
barroco herdou os avanços renascentistas na construção de cenários com
perspectivas ilusionísticas, o que estava ligado à revivescência da
arquitetura clássica.
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12
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O uso da
alegoria é típico do Barroco também porque ela não oferece uma resposta
unívoca às questões propostas, permanecendo o incerto, o ambíguo e o mutável
como elementos integrantes do tema, permite o exercício da crítica social sem
ligar-se diretamente a figuras públicas verdadeiras, e possibilita a
exploração da psicologia humana.
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13
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Literatura
para o teatro o envenenamento de
Britannicus, ilustração de François Chauveau para a edição de 1675 da
tragédia Britannicus, de Jean Racine.
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E foi
isto assim como parece? Não. Mas, posto que a humanidade de Cristo por este
ato não perdeu a união com a divindade, nem deixou de estar tão cheia de Deus
como dantes estava, abaixar-se, porém, e pôr-se em estado tão abatido, que o
parecesse ou pudesse parecer aos homens, foi uma diferença tão notável e tão
estupenda, que só o mesmo S. Paulo a pode ponderar e encarecer."
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A
imaginária sacra, então, voltou a ser vista como elemento central no culto
católico, fazia parte de um conjunto de instrumentos usados pela Igreja para
invocar emoções específicas nos fiéis e levá-los à meditação espiritual...
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A
Contrarreforma deu uma atenção redobrada à imaginária sacra, seguindo antiga
tradição que afirmava que as imagens de santos, pintadas ou esculpidas, eram
intermediários para a comunicação dos homens com as esferas espirituais.
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Também típica da pintura barroca foi a corrente dedicada à exploração
especialmente dramática dos contrastes de luz e sombra, a chamada escola
Tenebrista. Seu nome deriva de tenebra (treva, em latim), e é uma
radicalização do princípio do chiaroscuro.
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A
herança clássica trazia consigo determinadas formas estéticas e padrões
morais, quase toda a literatura do século anterior fora moralizante, mas ao
mesmo tempo se fazia frente à necessidade cristã de rejeitar o tão prezado
modelo clássico por sua origem pagã, considerada uma influência corruptora e
enganosa, e isso explica parte da rejeição do classicismo em boa parte do
Barroco.
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A
fachada se tornou um modelo para as gerações futuras de igrejas jesuítas, com
pilastras duplas sustentando umfrontão no primeiro nível, e um outro frontão,
maior, coroando toda a composição.
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20
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O
exemplo precursor da arquitetura barroca geralmente é apontado na Igreja de
Jesus em Roma, cujo projeto foi de Giacomo Vignola e a fachada e a cúpula de
Giacomo della Porta.
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21
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O
teorema jesuítico pós-tridentino e sua nova concepção da imagem em si, os
modelos romanos, a representação do poder e a liturgia encontram-se e
fundem-se numa síntese. Sem a imagem perfeita não há fé correta.
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22
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Nem a
liberdade artística deveria ser tolhida nem os teóricos desenvolveriam
prescrições estilísticas propriamente ditas, apenas orientações normativas e
morais.
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No dia e
ato da Encarnação, fazendo-se Deus homem, Deus vestiu-se da humanidade,
porque a uniu a si, e se cobriu com ela; e a humanidade, que era um vaso de
barro pequeno e estreito, ficou cheia de Deus, porque Deus a encheu com toda
a imensidade de seu ser: 'Quia ín ipso inhabitat omnis plenitudo divinitatis
corporaliter'.
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24
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Na
poesia sacra se notabilizaram São João da Cruz, Soror Juana de la Cruz e
Santa Teresa de Ávila. Ao longo do século XVIII os gêneros satíricos e
sentimentais como os cultivados por Alexander Pope, Voltaire e Jonathan
Swift, por exemplo...
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Em
termos estilísticos, a literatura barroca em linhas gerais dedicou um
profundo cuidado à forma e ao virtuosismo linguístico no intuito de
maravilhar e convencer o leitor, o que implicava o uso constante de figuras
de linguagem e outros artifícios retóricos, como a metáfora, a elipse, a
antítese, o paradoxo e a hipérbole...
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A
técnica não era inteiramente nova e já havia sido praticada por outros como
Correggio e Michelangelo no Maneirismo, mas o tratado de Pozzo se tornou
canônico, sendo traduzido para várias línguas ocidentais, e até para o
chinês.
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Andrea
Pozzo, codificando a técnica da perspectiva arquitetônica ilusionística em
seu tratado Perspectiva Pictorum et Architectorum, foi o responsável pela
divulgação em larga escala de uma das mais típicas modalidades de pintura do
Barroco...
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De
acordo com sua interpretação de ideias de Platão, procuravam estabelecer
relações exatas entre palavra e música.
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No
terreno da simbologia e linguagem musical, foi de grande importância o
desenvolvimento da doutrina dos afetos, propondo que recursos técnicos
específicos e padronizados usados na composição podiam despertar emoções no
ouvinte igualmente específicas e comuns a todos.
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As
origens do Barroco musical estão no contraste entre dois estilos nitidamente
diferenciados, o chamado prima prattica, o estilo geral do século XVI, e o
seconda prattica, derivado de inovações na música de teatro italiana.
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Deste
instrumental pedagógico católico fazia parte ainda a construção de cenários
nos quais eram inseridas as estátuas a fim de criar ainda maior ilusão de
realidade, numa concepção verdadeiramente teatral.
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Dentro
desse espírito, na escultura é de assinalar o desenvolvimento de um gênero de
composição grupal chamado de "sacro monte", concebido pela Igreja e
rapidamente difundido por outros países.
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As mudanças ocorridas até 1600 levariam à
construção de uma nova perspectiva eclesiástica e iconográfica que acabou
desembocando no ilusionismo perspectivista, unido elementos de emocionalidade
irracional com a transformação plástica de conceitos teológicos
intransigentes.
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Arquitetura
barroca é caracterizada pela complexidade na construção do espaço e pela
busca de efeitos impactantes e teatrais, uma preferência por plantas axiais
ou centralizadas...
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Contudo,
à medida que o Barroco progredia, estes parâmetros foram paulatinamente sendo
abandonados, enquanto que na Inglaterra e Espanha, por exemplo, a tradição
dos mistérios e paixões medievais continuava viva.
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Também
se tornaram comuns no Barroco a pintura de naturezas-mortas e interiores
domésticos, refletindo a crescente influência dos gostos burgueses. Nos
Países Baixos protestantes foram um dos traços distintivos do Barroco local,
conhecido ali como a Era Dourada da pintura...
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Os intensos
contrastes de luz e sombra emprestam um aspecto monumental aos personagens, e
embora exagerada, é uma iluminação que aumenta a sensação de realismo.
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